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Cérebro: Um computador com sentimentos

O cérebro é o mais perfeito computador conhecido. As novas descobertas e estudos que vem sendo realizados pela neurociência, estudo científico do sistema nervoso, vem demostrando que ele é reprogramável, como qualquer um dos supercomputadores da Nasa, considerados os mais avançados existentes no mundo. A neurociência tem sido vista como um ramo da biologia. Entretanto, os recentes estudos, demonstram que se trata de uma ciência interdisciplinar que colabora com outros campos como a química, ciência da computação, engenharia, linguística, matemática, medicina e disciplinas afins como a filosofia, a física e psicologia.

Mas o conhecimento do cérebro é mais antigo do que julgamos. Hipócrates, considerado “o Pai da Medicina”, há nove séculos antes de Cristo, assim o definiu: “Acerca das doenças sagradas, o homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas do encéfalo, vem a alegria, o prazer, o riso, e a diversão, o pesar , o ressentimento, o desânimo e a lamentação. Por esse mesmo órgão tornamo-nos loucos e delirantes, e medos e terrores nos assombram. Nesse sentido, sou da opinião de que o encéfalo exerce o maior poder sobre o homem”. Mas a palavra neurociência é jovem e a primeira associação de neurociência foi fundada somente em 1970.

Por causa do o grande número de cientistas que estudam o sistema nervoso, várias organizações foram criadas, como a International Brain Research Organization fundada em 1960, a Society for Neurocience em 1969, a Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento em 1976 e a Sociedade Portuguesa de Neurociências em 1992. O termo neurobiologia é usualmente usado alternadamente com o termo neurociência, embora o primeiro se refira especificamente à biologia do sistema nervoso, enquanto o último se refere ao sistema nervoso como um todo.

Segundo Henriette van Praag, uma das mais renomadas cientistas no campo da neurogênese, do Laboratório de Neurociências do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos: “não é segredo que a atividade física produz inúmeros benefícios para o corpo, mas agora a ciência reuniu provas suficientes para adicionar um novo e poderoso efeito à sua lista de ações positivas: o aprimoramento do cérebro. As mais recentes descobertas indicam que a prática regular de exercícios ajuda a pensar com mais clareza, melhora a memória e proporciona um grande ganho na aprendizagem. Novos estudos sugerem que as mudanças podem ser ainda maiores, alterando a própria estrutura do órgão ao incentivar o nascimento e o desenvolvimento de neurônios”.

Miguel Nicolelis, um médico brasileiro que lidera um grupo de pesquisadores da área de neurociência da Universidade Duke  em Durham, Estados Unidos, foi responsável pela descoberta de um sistema que possibilita a criação de braços robóticos controlados por meio de sinais cerebrais. O trabalho está na lista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) sobre as tecnologias que vão mudar o mundo.

Nicolellis desenvolve uma pesquisa no campo de fisiologia de órgãos e sistemas, na tentativa de integrar o cérebro humano com máquinas (neuropróteses ou interfaces cérebro-máquina). O objetivo das pesquisas é desenvolver próteses neurais para a reabilitação de pacientes que sofrem de paralisia corporal.

No Brasil o cientista lidera o projeto do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, na capital do Rio Grande do Norte, cuja uma das linhas de pesquisa visa caracterizar a resposta dos tecidos ao implante dos mesmos eletrodos utilizados nas pesquisas que são desenvolvidas em seu laboratório na Universidade Duke. Os primeiros resultado receberam destaque internacional ao serem divulgados revista PLoS ONE. Em 28 de fevereiro de 2013 Miguel e equipe conseguiram conectar dois ratos pelos sinais de seus cérebros.

Em 23 de novembro de 2010, Nicolelis divulgou um documento de sua autoria intitulado Manifesto da Ciência Tropical: um novo paradigma para o uso democrático da ciência como agente efetivo de transformação social e econômica no Brasil. Segundo o manifesto “o Brasil encontra-se diante de uma oportunidade única de potencializar seu desenvolvimento científico e educacional, através da cooperação entre ambos, e propõe quinze medidas necessárias para o país firmar-se como uma liderança mundial na produção e uso democratizante do conhecimento”. O documento repete a ênfase na descentralização da produção científica e na aproximação entre pesquisa e escola, seguindo o exemplo do Instituto Internacional de Neurociências de Natal.

Existem vários ramos de estudo em sistemas inteligentes, cada um se dedicando a um aspecto específico do comportamento humano. Por exemplo, há quem estude robôs e se preocupe com a parte motora. Outras áreas se debruçam sobre a fala, com o objetivo de criar máquinas que possam conversar, entender a língua e seus significados.

Tudo isso pode parecer muito perto da ficção, mas a inteligência artificial já está presente no cotidiano de todas as pessoas. Por exemplo, no desenvolvimento de videogames que utilizam esse tipo de estudo para criar jogos cada vez mais complexos. Nos games de futebol, cada jogador tem características muito específicas e próximas às de um competidor real. Ou seja, um é melhor em passe, mas corre menos que o outro. Para simular isso, são aplicadas técnicas de sistemas inteligentes. Outro exemplo são as máquinas fotográficas que fazem o foco automático no rosto das pessoas ou que disparam ao encontrar um sorriso. Até mesmo nos corretores ortográficos dos processadores de texto de computador, é preciso um sistema inteligente para detectar que há um problema de sintaxe na frase e oferecer uma possível correção. Muita gente reclama que o corretor sempre erra. Mas é preciso lembrar que, como os sistemas inteligentes simulam o ser humano, eles erram como nós.

Como se percebe, a inteligência humana é um tema complexo e bastante controverso. São diversos os pontos que nos levam a reflexões. Cabe a nós esperar que, independente dos rumos que os estudos sobre tomem, eles sejam guiados pela ética e pelo bom senso.